Pesquisas apontam que os anos 50 foram marcados pelo surgimento diferente de
alfabetizar do educador Paulo Freire e dos círculos populares de cultura, fatos que
proporcionaram a sistematização de um ideário e de experiências que conhecemos nos
dias atuais por educação popular.
Assim influenciou a década de 60 movimentos populares de todas as ordens que tinham
como relevância a valorização do diálogo e a interação como fundamentos necessários
para garantir a libertação do educando e o direito a educação básica. Freire via a
educação em duplo plano instrumental, capaz de preparar técnicas e cientificamente a
população para o mercado de trabalho, e que atendesse as necessidades concretas da
sociedade, para isto elaborou uma proposta conscientizadora de alfabetização de
adultos, cujo princípio básico era a leitura do mundo e as experiências do educando,
desta forma sua proposta de alfabetização partiam da realidade de vida do aluno para o
aprendizado da técnica de ler e escrever.
O método Paulo Freire chamava a atenção dos educadores e políticos da época, pois seu
método acelerava o processo de alfabetização de adultos e tinha como ponto
fundamental as palavras geradoras, sendo assim podemos dizer que seu método consiste
em três momentos entrelaçados:
O primeiro momento é a investigação temática, pela qual professor e aluno buscam, no
universo vocabular do educando e da sociedade onde vive as palavras e temas centrais
de sua biografia. Esta é a etapa da descoberta do universo vocabular, em que são
levantadas as palavras e temas geradores relacionados com a vida cotidiana dos
alfabetizandos e do grupo social a que eles pertencem. Essas palavras geradoras são
selecionadas em função da riqueza silábica, do valor fonético e principalmente em
função do significado social, trazendo a cultura do aluno para dentro da sala de aula. O
segundo momento a tematização, pela qual professor e aluno codificam e descodificam
esses temas, buscando seu significado social, tomando assim consciência do mundo
vivido e é nesta fase que são elaboradas as fichas para a decomposição das famílias
fonéticas dando para a leitura e a escrita. O terceiro, a problematização na qual eles
buscam superar uma primeira visão mágica por uma visão crítica, partindo para a
transformação do contexto vivido, nesta ida e vinda do concreto para o abstrato e do
abstrato para o concreto, volta-se ao concreto problematizando, descobrindo limites e
possibilidades existenciais captadas na primeira etapa. A realidade opressiva é
experimentada como um processo passível de superação, a educação para a libertação
deve desembocar na práxis transformadora. (FREIRE, 1979, p.72).
Freire elabora uma forma de educação interdisciplinar, com o grande objetivo da
libertação dos oprimidos, ou seja, a humanização do mundo por meio da ação cultural
libertadora, evitando a lógica mecanicista que considera a consciência como criadora da
realidade, e o mecanismo objetivista, que considera a consciência como cópia da
realidade.
Freire (1996), propunha uma educação molhada de afetividade, mas não deixando que
a efetividade interferisse no cumprimento ético e no dever de professor e na sua
autoridade, uma relação pedagógica cultural que não se trata apenas de conceber a
educação como transmissão de conteúdos curriculares por parte do educador, tendo
como necessidade a participação do educando, levando em conta a sua autonomia e sim
estabelecendo uma prática dialógica na escola. Freire ressalta a importância da
dimensão cultural no processo de transformação, pois a educação é mais do que uma
instrução, para ser transformadora deve enraizar-se na cultura dos povos. Nesse sentido
a transmissão de conteúdos estruturados fora do contexto do alfabetizando é
considerada invasão cultural, porque não emerge saber popular.
No pensamento de Freire o aluno não é um depósito que deve ser preenchido pelo
professor, cada um, juntos pode aprender e descobrir novas dimensões e possibilidades
na realidade da vida, pois o educador é somente o mediador no processo de ensino-
aprendizagem e aprende junto com seu aluno. A educação é vista por Freire como
pedagogia libertadora capaz de torna-la mais humana e transformadora para que homens
e mulheres compreendam que são sujeitos da própria história. A liberdade torna o centro
de sua concepção educativa e esta proposta é explícita desde suas primeiras obras.
Nas suas expectativas os analfabetos deveriam ser reconhecidos como seres humanos
produtivos, que possuem uma cultura, e o papel do educador deve ser de profundo
comprometimento de transformação social com os educandos.
Seguindo esta perspectiva Freire criticou a chamada educação bancaria que considerava
o analfabeto ignorante, como uma lata vazia onde o professor deveria depositar o
conhecimento. Ele defendia uma ação educativa que não negasse sua cultura, mas que
fosse transformada por meio do diálogo.
De acordo com Carvalho (2010) as lições encontradas nas cartilhas são uma série de
frases isoladas, colocada uma embaixo da outra com o propósito de exercitar o
alfabetizando e treina-lo na aprendizagem de palavras com letras v, m, l e b. Como uma
dessas frases: A vovó é da menina, a menina leva doce para vovó, o boi baba, entre
outras.
Freire questiona o uso das cartilhas, chamando a atenção para a importância de se
ensinar os alunos coisas que sejam desconhecidos por eles, para Freire o educador deve
priorizar o conhecimento de mundo trazido pelo aluno, para relacionar o que ele
conhece com a aprendizagem na sala de aula. O aluno se encontra em meio à
aprendizagem deixando de lado aquelas frases sem sentido e sem motivação.
Portanto, para essa adequação se tornar viável, não basta somente revermos o material
didático, é preciso não só o educador repense o seu papel enquanto mediador de uma
aprendizagem que priorize a bagagem de conhecimento trazido por seus alunos, mas
também a flexibilidade das instituições em permitir a realização de um bom trabalho
diferenciado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário